sábado, 7 de novembro de 2009

A tempestade.

Por Fernando Silva

A minha cabeça é hoje a praia da nossa história. As águas revoltas, a trovoada ensurdecedora, a luz magnífica dos relâmpagos no mar… É noite de tempestade na nossa praia – história. É noite de tempestade na minha cabeça. As ondas rebentam violentamente, na areia. As minhas ideias revoltam-se, rebentam violentamente, na areia da nossa praia, na minha cabeça. As vagas, a areia molhada, o vento gelado. O meu corpo encolhido contra o teu, à procura de conforto. O calor reconfortante do porto de abrigo. Olhas-me com o deslumbramento e o medo estampados no rosto. O deslumbramento e o medo de quem vê um relâmpago explodir no mar, unir o céu à terra, iluminar o céu inteiro, a terra inteira. Para ti sou esse relâmpago, que te leva da terra ao céu, do mar ao céu, em poucos segundos. E para mim, és o porto de abrigo que me acolhe, que me aconchega, que me acaricia os cabelos e me acalma antes de adormecer… És o porto de abrigo que tenho mas não tenho. Não tenho porque não sabes que tenho. Dentro da minha cabeça, estamos em frente ao mar, em frente à lareira de copo de pé alto na mão, entre lençóis, ou no calor húmido que te incomoda mas que aceitas por mim. Dentro da minha cabeça estamos nas horas que passas sem dormir, no cansaço dos teus olhos que aceitas com um sorriso meigo. És o meu porto de abrigo. O que tu sabes é que não confio em ti, e o que tu não sabes é que confio em ti. És o porto de abrigo que nunca tive, a calma dos anos. Mas guardas no fundo dos olhos claros, o sorriso fácil, a doçura e a meiguice da infância. Tens agora, menos dez anos do que tens. E eu, a calma e a segurança de mais dez anos do que tenho. E é por isso, que nos encontramos a meio caminho, e damos a mão, para no calor do aconchego dos corpos, na meiguice e na doçura das carícias no cabelo, no toque da pele quente, no porto de abrigo um do outro, vivermos a paixão das ondas a rebentar na areia, dos trovões a ecoar no alto, dos relâmpagos a explodir no mar.

A paixão da tempestade na praia.

D.

* November rain - Guns n' roses


1 comentário:

  1. adorei o que escreveste, especialmente a ideia do simultâneo deslumbramento e medo do relâmpago, das imagens que criaste, e do jogo de palavras...ouvi o mar revolto sentada na areia :)

    ResponderEliminar